03 setembro 2013

Fuga nº 4 Changchun

photo: Nathy

Lembro daquela peça de teatro que foi baseada num conto do Caio Fernando Abreu. Naquele exato momento em que os atores fazem um exercício corporal de ir de encontro e desviar, desviar e ir de encontro e sempre, sempre, sempre ligados.

Sem cair no chão.

Isso me faz lembrar automaticamente de várias vezes que fui ao teu encontro, você veio até mim e sei lá, desde sempre estivemos ligadas. E sem mais precisar cair no chão. Exceto daquelas vezes em que rolávamos no chão de tanto rir. Rir até chorar. Rir até doer a barriga. Rir até faltar o ar.

Rir até perceber que só rimos assim quando estamos juntas.

Tem sido difícil ter o nosso tempo, acertar os ponteiros, os assuntos, as loucuras, as angústias... Os velhos cafés. Talvez o tempo - destino ou seja lá o que essa vida for - tenha sido criado por uma "criança que tomou LSD". É uma sensação de que o tempo passa muito rápido e ao mesmo tempo está parado. Nesse álbum novo do Cícero da pra ver isso.

É aquele fim de tarde que sempre íamos pro bosque, ver o pôr-do-sol, uma música tocava de leve (com certeza era um prelúdio desse álbum do Cícero), uma cerveja pra molhar a garganta e um desejo no fundo do nosso peito de fazer várias coisas, de gritar pro mundo que queremos ele inteiro, de correr com o pé no chão, arranhar um violão, rabiscar um poema num guardanapo qualquer, de ser quem a gente quiser.

Mas é tão difícil ser quem a gente quer.

Acabamos ficando estáticas nesse fim de tarde de sábado, cada uma na sua cidade, uma dorzinha no peito, lutando pra fazer um pouco do que gostamos, tentando achar nosso lugar no mundo.

Mas sem cair no chão.


Um comentário:

Priscila disse...

Lembro que quando você escreveu esse post o meu comentário não conseguia te forma alguma ser enviado. Agora tô aqui, lendo de novo, e a sensação foi diferente. Deu um aperto maior. Imagino que isso sempre aumentará e será em progressão geométrica. Fudeu! hahah
Mas é assim mesmo e que façamos disso um mantra pra vida. "...desviar e ir de encontro e sempre, sempre, sempre ligados. Sem cair no chão."