27 outubro 2011

Vamos beber Drummond?

Por Agda Santos e Edgar Borges


A plataforma baixa da Orla Taumanan será palco da celebração em Boa Vista dos 109 anos de nascimento do poeta, cronista, contista e tradutor Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores nomes da literatura brasileira. O sarau comemorativo começa às 17h30 do próximo domingo, 30 de outubro, e está sendo organizado pelo Coletivo Arteliteratura Caimbé.

As pessoas podem participar apenas ouvindo, mas o ideal é que cada uma leve um livro ou poema de Drummond e leia um pouco para os demais presentes, compartilhando o que mais gosta da obra do escritor. Nos intervalos das leituras será feita a audição de textos do poeta que foram gravados por atores.
“Nossa intenção é de que cada um declame seu texto preferido de Drummond e celebre o nascimento dele, que ocorreu no dia 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais. Portanto, traga seus poemas preferidos, sua bebida gelada, seus amigos, parentes e o que mais desejar e vamos festejar”, convida a contista Ágda Santos, uma das organizadoras do evento em parceria com Edgar Borges, integrante do Coletivo Arteliteratura Caimbé.

Em várias cidades brasileiras haverá atividades comemorando o “Dia D` Drummond”, marcado para segunda. A antecipação em Boa Vista atende às particularidades da cidade, explica Edgar: “é mais fácil as pessoas deixarem a sua casa um domingo à tarde para uma confraternização com outros leitores do poeta que esperar que façam isso na segunda, dia de trabalho, estudo e outros afazeres.”
“Vi que muitas cidades iam comemorar o nascimento de Drummond e nasceu daí a vontade de realizar algo também aqui, já que conheço muita gente que gosta dele. Por isso fiz a proposta de parceria ao Coletivo Caimbé, que topou organizar o sarau”, conta Ágda, que escreve contos, poemas e crônicas no blog http://www.papeldesemica.blogspot.com/.
“Algumas pessoas já falaram que vão levar vinho para brindar o Dia D. Essa é a intenção: beber, literal e metaforicamente, Drummond, autor de poemas que estão no imaginário coletivo, como o mais que conhecido ‘José’”, afirma Edgar. Este é o segundo sarau do Coletivo Caimbé neste mês. Na semana passada, durante a VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima, ajudou a organizar um encontro de cordelistas e declamadores de poesias. As fotos desta e outras atividades estão disponíveis no blog http://www.caimbe.blogspot.com/.


O POETA - Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira MG, em 31 de outubro de 1902. Estudou na cidade natal, em Belo Horizonte e em Nova Friburgo (RJ). Começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, em BH, onde conheceu adeptos do movimento modernista mineiro.
Formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Trabalhou também no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.

Entre outras obras, publicou Alguma poesia (1930), Brejo das almas (1934), Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945). Morreu no Rio de Janeiro RJ, em 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.


Mais informações sobre o sarau:
Ágda Santos (9133 6814 ) ou Edgar Borges (9111 4001)

26 outubro 2011

É tanta


Viu as fotos? As notícias? O ditador morto? O festival em São Paulo?
E o que esteve nos trending topics? A manchete do jornal? O álbum novo daquela cantora nova?
Não vi. Não li. Aonde? Nem quero.
Desatualizada. Desinformada. Como não? Aonde estava? Perdeu, foi ótimo.

É tanta informação, gente, novidade que...

Que nada.
Desligamos tudo, tiramos os tênis, corremos pela grama, abraçamos árvores, quebramos copos, batemos boca, fomos ao parque, discutimos Caetano.
A dor, o vazio, a rotina, a neura. Nada é o mesmo.
A sensibilidade é tamanha que há lágrimas nos olhos por esses momentos bonitos.
São dias e noites de sol, independentemente do astro que leva esse nome e fica acima de nossas cabeças queimar e emanar seu calor nesse dias e noites. Independentemente dele, serão quentes esses momentos. Porque calor é interno.
E nós temos uns aos outros.

Sobram notícias, sobram links, sobram manchetes, sobram músicas novas e afins porque há vida.
Só não sobra tempo.

"Quando é que a gente começou a ser tão feliz?"


24 outubro 2011

Guarda vida napo

A vida cabe num guardanapo.
E sobra,
E derrama,
E preenche tudo de novo.
Um ciclo vicioso.

A vida não cabe
Não há guardanapo

Copo garrafa vida.

A vida não te cabe e nem a mim.
A vida é só isso e fim.

A vida, embora não caiba no guardanapo
E resta na mesa de bar

Cabe agora neste nós.


Morri aqui na confusão
De saber se está para mim

Nesta história

Os sóbrios ou ébrios

Queridos copos gélidos ou não


Pois que seja do napo

Do pouco guardo

Do trapo

Que para nós fique esta

A pouca história ou não


Por eu, J. , A. e B. Ledo

10 outubro 2011

Nosso Café

Aos 20 anos...

- Oi, quer café?
- Aceito.
- Mal dormi essa noite. Monte de pesadelo.
- E eu foi uma guerra pr'acordar.
- Tem aula hoje?
- Rapaz, tá rolando lá.
- Café feito naquela velha meia furada...
- Nem fala.
- Já foi.
- E tu vai beber?
- É café.
- A gente devia ter bebido primeiro o café, depois comido o salgado.
- Agora já foi.
- É, já foi.

Aos 30 anos...

- Quer café? Vou passar em frente ao seu trabalho.
- Traz bem forte. Segunda-feira precisa de pelo menos 5 litros de café.
- Tenho conhaque na bolsa, quer?
- Errrrrrrr... Não! Tá louca?
- Eu tava brincando. Não posso beber no trabalho.
- Seeei...
- Bem forte, né?
- Isso!
- Tudo bem, em cinco minutos tou chegando aí.
- Hey! Calma! Aquele lance do conhaque era brincadeira mesmo?

Aos 40 anos...

- A ligação tá horrível.
- É porque tá chovendo.
- Cê tá aonde agora?
- Numa província da Tailândia, perto de Camboja. Lindo, lindo, lindo demais.
- Imagino que sim. Vi algumas fotos suas numa exposição em Madri semana passada.
- Sim, sim. Não tinha como te avisar da exposição. Mas que bom que a encontrastes! O que achou?
- Maravilhosas, claro! Fiquei gabando-me por ser tua amiga.
- HAHA, imaginei. E tu? Tá aonde agora?
- Ainda em Madri, mas parto amanhã de volta a Barcelona. Fui convidada pra dar umas palestras sobre meu livro. Aliás, você recebeu a cópia que te enviei quando você tava no Nepal?
- Recebi sim! E já o devorei, mas escrevi todos os meus comentários pra entregar-te pessoalmente.
- E quando tu voltas pro Brasil?
- Daqui a três dias. E tu?
- Perfeito. Voltaremos então daqui a três dias.
- Pronto! Nem te digo que comprei o café dos deuses da Tailândia.

Aos 50 anos...

Eu não faço a mínima ideia de como elas estarão aos 50 anos. Não sei o que estarão fazendo, com quem estarão, se terão filhos...
Eu só sei que elas irão continuar dividindo café de algum modo.

02 outubro 2011

Sangue nos olhos


"Não sei onde pus as chaves da porta da frente."
"Será se estão no carro?"
"Já sei! Na bolsa!"
"Não, não estão."
O poster do seu filme favorito despregou da parede. As roupas que você joga em cima da cama são dobradas dia-sim-dia-não por uma estranha a quem você confia o seu lar pra que ela o organize pra você.
Num canto do teu quarto a parede é amarelada por causa do suor de todas as costas que se encostaram ali e ficaram por horas vendo a vida passar na frente do computador. E só acumula. O suor. O amarelo.
"Depois eu pinto a parede."
"Depois eu colo o poster."
"Depois eu procuro as chaves."
E metade de tudo em volta de ti fica pra depois. E teu depois é data que nunca chega.
O que chega são as teias de aranha sob teu poster.
O que chega é uma parede ainda mais amarelada.
O que chega é a cegueira nos olhos do teu cachorro, já velho, no qual você alimenta todos os dias mas não repara. Levar comida e água é tão automático que os olhos dele poderiam estar cheios de sangue que você não notaria a menos que jorrasse, o sangue.
E um dia jorrou.
Jorrou o sangue, as teias, o amarelo. E junto deles, culpa.
Culpa do teu depois ser uma data indeterminada. Você passa mais tempo listando as coisas que tem pra fazer do que fazendo e o tempo passa. E então você resolve agir quando já é tarde demais.
Tarde demais porque a parede já mofou, o poster se deteriorou, as chaves já não existem mais e o sangue nos olhos do teu cachorro escorreu mais do que devia. E deu lugar a um par de olhos opacos, brancos de cegueira. Um cão sem olhos.
Só o que ficou com o depois foram lágrimas e culpa pela negligência.
Ambas suas.